Sendo o berço da cidade de Pelotas, a Charqueada Boa Vista, ao longo dos seus 207 anos, passou por diversos proprietários. Em 1779, teria sido vendida por Dona Isabel Francisca da Silveira a Jose Pinto Martins, um dos fundadores de Pelotas que, vindo do Ceará, instalou, na margem direita do Arroio Pelotas, a primeira fabrica de salga de carnes, dando inicio a produção do charque. O ano de 1780 é assinalado como do inicio da atividade de comercialização do charque no Rio Grande do Sul, sendo Pinto Martins, produtor de carne seca em sua terra natal (Ceara), seu pioneiro, estabelecendo a primeira fabrica de salga às margens do arroio Pelotas. Após sua morte, a propriedade foi adquirida por Joaquim Jose da Cruz Secco que, em 1875, deixou como herança a seu genro e sobrinho Francisco Antunes Gomes da Costa, futuro Barão do Arroio Grande. O Barão de Arroio Grande foi figura expressiva na historia do Rio Grande do Sul e Pelotas. Poeta, jornalista, deputado e Vice-Presidente da Província do Rio Grande do Sul. Na Guerra do Paraguai atuou na Guarda Nacional. O titulo de Barão foi recebido em 1879. A propriedade permaneceu na família do Barão de Arroio Grande ate o ano de 1970, quando foi adquirida pelo argentino Donald Noble Marshall, pai do atual proprietário, Alejandro Donaldo Eduardo Marshall, o qual estabeleceu nela sua residência em 1989, quando iniciou o processo de restauração do local. Na reforma foram preservadas as características originais da casa, que data de 1811 e passou por expressiva reforma em 1938, de acordo com os medalhões esculpidos em sua fachada. Em 2007, a charqueada Boa Vista, além de residência de seu proprietário, passou a ser um espaço destinado a realização de eventos, sendo hoje um dos principais locais na atividade.
O início do Ciclo do Charque em Pelotas ocorreu em 1779, quando o nordeste brasileiro foi castigado por uma forte seca e o rebanho local foi dizimado. O português José Pinto Martins, proveniente do Ceará, onde produzia carne de sol, estabeleceu às margens do Arroio Pelotas a primeira charqueada industrial da região. O local foi escolhido devido a estar isento de vento e areia do litoral e estar próximo ao porto de Rio Grande. O charque era utilizado como alimento para os escravos e, como havia vários países na época que utilizavam a mão de obra escrava, grande parte do charque era exportado. Os únicos concorrentes do Brasil eram a Argentina e o Uruguai, mas como estes viviam em guerra, o negócio era muito lucrativo. O processamento era necessário para a conservação da carne, pois na época não havia frigorífico. As demais charqueadas, no total de 38 em 1873, foram instaladas nas margens dos arroios Pelotas, Santa Bárbara e São Gonçalo. A matéria-prima era oriunda do pampa gaúcho, com o rebanho introduzido pelos jesuítas no século XVII. O progresso advindo da venda do charque foi fundamental para a criação da Freguesia de São Francisco de Paula, da vila em 1832 e da cidade de Pelotas em 1835. Devido ao fato de que grande parte do charque era exportado, os navios retornavam da Europa com livros, porcelanas, quadros, móveis, moda, equipamentos médico-odontológicos, etc., contribuindo em muito na evolução cultural do município. Quando os navios descarregavam charque no nordeste brasileiro e no Caribe, voltavam com açúcar, produto nobre na época. Este fato favoreceu para que a cidade de Pelotas seja reconhecida nacionalmente pelos seus doces. Os charqueadores construíram verdadeiras mansões no centro de Pelotas e na região da Serra dos Tapes (Cascata, Cristal, etc.), já que o cheiro nos casarões das charqueadas era insuportável. Também foram construídos teatros e estação ferroviária na cidade. A sazonalidade na produção do charque (novembro a abril) fazia que a mão de obra escrava fosse desviada para a lavoura e para a produção de peças de barro, telhas principalmente. As telhas eram moldadas na perna do escravo, vindo daí a expressão “fazer nas coxas” para um serviço feito de maneira rápida e sem precisão. O fim do ciclo do charque deu-se por três motivos: a abolição da escravatura em 1888, o que veio a dificultar a mão de obra, pois cada charqueada contava com aproximadamente 40 escravos; a criação de charqueadas nas cidades que tinham grande rebanho bovino, facilitada pela construção de ferrovias; e o início da atividade de frigoríficos no início do século XX. Após o ciclo do charque, os “barões do charque” criaram um novo ciclo econômico em Pelotas, que dura até hoje: o Ciclo do Arroz.
O Arroio Pelotas é um arroio que drena o município de Pelotas, cidade brasileira do estado do Rio Grande do Sul. Possui cerca de 60Km de extensão. Nasce do encontro de dois outros arroios, o Arroio das Caneleiras e o Arroio do Quilombo. Deságua no Canal São Gonçalo, canal que liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim. Possui esse nome em virtude da “pelota”, embarcação feita de couro bovino e varas de corticeira, usada pelo indígenas para transportar pessoas e mercadorias. Em 2003, foi declarado Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul pela Lei 11.895/2003, elaborada pelo então Deputado Bernardo de Souza.